segunda-feira, 28 de junho de 2010

Brasil campeão da Copa de Futebol de 58

O padre Raimundo do Nascimento Teixeira, salesiano e pioneiro no Planalto Central, além de excelente cronista, fez o registro da primeira Copa do Mundo de Futebol acompanhada em Brasília. Foi na Suécia, em 1958, e o Brasil sagrou-se campeão pela primeira vez.  O rádio que sintonizou os jogos era de Dom Fernando, que visitava o colégio. De acordo com o padre, foi “vibrante a torcida eclesiástica”.

E no dia 28 de junho de 1958, em plena Copa do Mundo de Futebol, foi realizado o primeiro casamento de Brasília, celebrado pelo Cardel Motta. A noiva era uma das filhas do engenheiro Israel Pinheiro. Um pouco antes da cerimônia, o presidente Juscelino pede ao padre Raimundo para ser ouvido em confissão. Em suas anotações o padre faz o seguinte registro sobre esse episódio:

“O Presidente da República me fez sentar em uma cadeira e ali mesmo, de joelhos no chão, fez sua confissão. Disseram então as más línguas, que assim comecei: Quais os pecados que tenho a honra de perdoar de V. Excia? Na ocasião refleti comigo mesmo – Feliz a Nação que vê seu chefe supremo dobrar os joelhos para pedir a Deus perdão.

sábado, 26 de junho de 2010

Junho: mês de festas

A festa junina tem origem em países católicos da Europa e seria em homenagem a São João. No princípio, a festa era chamada de Joanina. De acordo com historiadores, esta festividade foi trazida para o Brasil pelos portugueses, ainda durante o período colonial português.

Naquela época, havia uma grande influência de elementos culturais portugueses, chineses, espanhóis e franceses. Da França veio a dança marcada, característica típica das danças nobres e que no Brasil, influenciou muito as típicas quadrilhas. Já a tradição de soltar fogos de artifício é da China, região de onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos. Da península Ibérica teria vindo a dança de fitas, muito comum em Portugal e na Espanha.  

Todos estes elementos culturais foram, com o passar do tempo, misturando-se aos aspectos culturais dos brasileiros (indígenas, afro-brasileiros e imigrantes europeus) nas diversas regiões do país, tomando características particulares em cada uma delas.  

Em Brasília, durante a construção da nova capital, o presidente Juscelino Kubitschek participou de várias festas juninas na então Cidade Livre. Festeiro, natural do interior mineiro, onde as festas juninas são tradicionais, JK ajudou a consolidar o gosto por este evento no Planalto Central.

Embora sejam comemoradas nos quatro cantos do Brasil, na região Nordeste as festas ganham uma grande expressão. O mês de junho é o momento de se fazer homenagens aos santos São João, São Pedro e Santo Antônio. Como é uma região onde a seca é um problema grave, os nordestinos aproveitam as festividades para agradecer as chuvas raras na região, que servem para manter a agricultura.

Como o mês de junho é a época da colheita do milho, grande parte dos doces, bolos e salgados, relacionados às festividades, são feitos deste alimento. Pamonha, cural, milho cozido, canjica, cuzcuz, pipoca, bolo de milho são apenas alguns exemplos.
Além das receitas com milho, também fazem parte do cardápio desta época: arroz doce, bolo de amendoim, bolo de pinhão, bombocado, broa de fubá, cocada, pé-de-moleque, quentão, vinho quente, batata doce e muito mais.

Na região Sudeste são tradicionais a realização de quermesses. Estas festas populares são realizadas por igrejas, colégios, sindicatos e empresas. Possuem barraquinhas com comidas típicas e jogos para animar os visitantes. A dança da quadrilha, geralmente ocorre durante toda a quermesse.

Como Santo Antônio é considerado o santo casamenteiro, são comuns as simpatias para mulheres que querem casar. No dia 13 de junho, as igrejas católicas distribuem o “pãozinho de Santo Antônio”. Diz a tradição que o pão bento deve ser colocado junto aos outros mantimentos da casa, para que nunca ocorra a falta. As mulheres que querem casar, diz a tradição, devem comer deste pão.

sábado, 19 de junho de 2010

Candango ou brasiliense?

Quem nasce em Brasília é o que?

Você decide qual gentílico adotar. Mas há uma regrinha. Atualmente, apenas os mais antigos, filhos e netos dos operários pioneiros, se intitulam candangos. Quem não tem esta origem prefere se declarar brasiliense.

Candango tem apelo emotivo mais forte e origem idem. O presidente Juscelino Kubitschek, em entrevista ao jornal diário Carioca, disse preferir a expressão “candango”. E explicou: “candango é o avesso da triste aparência de um inválido abatido com que Euclides da Cunha retratou o sertanejo, e vocês não o encontrarão no companheiro candango, a quem devemos Brasília”.

Em dicionário de língua portuguesa a palavra “candango” apareceu pela primeira vez em 1899, em versão de Cândido de Figueiredo. Designava o nome que os descendentes de africanos davam aos portugueses, originário da língua quimbundo, significando alguém desprezível e de mau gosto. Com o tempo, os portugueses apropriaram-se da expressão e com ela passaram a se referir a índios, mestiços e negros.

O monumento de Bruno Giorgi, Os Candangos, primeiramente recebeu o nome de Os Guerreiros e foi construído para homenagear os 60 mil trabalhadores que construíram Brasília.

sábado, 12 de junho de 2010

Dia dos Namorados: uma carta dá origem ao casamento de Laudelino e Jurêdes

Ele datilografava 330 toques por minuto, sem erros. O Banco do Brasil, naqueles idos dos anos 60, exigia para contratar um funcionário a performance de 180 toques. Se o Livro de Recordes já existisse, com certeza o contabilista da Novacap  Laudelino José Ferreira estaria lá. O desempenho impressionou a auxiliar administrativa Jurêdes Figueira.

Foi com muito orgulho que Laudelino, 72 anos, recordou sua história em Brasília numa tarde chuvosa de sábado, em casa, no Park Way, ao lado da esposa Jurêdes, que também foi funcionária da Novacap. Ele chegou em Brasília em março de 1958, com um tio, vindo de Uberaba (MG). Ela um pouco depois, em 59, com a família, vinda do Rio de Janeiro. No dia oito de abril de 1961 estariam casados. A cerimônia religiosa foi realizada na Igrejinha da 108 Sul.

Quando decidiam casar, o pai de Jurêdes estava no Rio. Laudelino na teve dúvida, enviou um carta ao futuro sogro, João Figueira Neto, pedindo a mão de sua filha em casamento. Em pouco tempo chegava a carta com a resposta do sogro: sim, ele abençoava a união.

Laudelino e Jurêdes tiveram quatro filhas: Maria Cristina, Ana Lúcia, Miriam Noêmia e Rosa Maria. O casal morava com as quatro meninas em um apartamento de um quarto na 408 Sul, depois a família mudou para a 312 Norte, 711 Norte e, por fim, para o Park Way.

Numa agradável conversa na varanda, Laudelino recorda dos tempos em colhia cajuzinho do cerrado nos campos do final da Asa Sul, mas tem também uma lembrança amarga, a malária que contraiu logo que chegou em Brasília. “Provavelmente peguei malária em uma fazenda, onde fiquei uns dias antes de seguir para Brasília”. Os médicos não souberam diagnosticar a origem do febrão e ele foi para Uberaba, lá teve o diagnóstico.

A oposição ao governo do presidente Juscelino Kubistchek logo transformou a malária de Laudelino em propaganda negativa para a nova capital. “A UDN fez tanto barulho que o presidente JK mandou um avião, com médicos, me buscar em Uberaba, mas não precisou, eu voltei depois, totalmente recuperado”.

sábado, 5 de junho de 2010

Aloysio Campos da Paz rompe o silêncio

Há pioneiros legendários. E o médico Aloysio Campos da Paz é um deles. Avesso a entrevistas, ele concordou em conversar com a jornalista do Correio Braziliense Conceição Freitas. O jornal publica na edição de hoje (cinco de junho) o resultado desse encontro, registrado em fotos de Zuleika de Souza. Aloysio Campos da Paz tem 75 anos, é casado com a bibliotecária Elsita, tem três filhos, quatro netos e está escrevendo um livro de memórias. É fundador e atual cirurgião-chefe da rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. O blog pega carona com Conceição e publica trechos da entrevista. O link com a íntegra está ao final do texto.

Chegada em Brasília

Num dia da primeira quinzena de maio de 1960, um ortopedista recém-formado saiu de casa, na 106 Sul, para se apresentar no primeiro emprego. Estava vestido de branco até os pés — “roupa que os médicos, os babalorixás e os atendentes de farmácia usavam na época”. Afundando em poeira, caminhou até uma estrada por onde transitavam caminhões cheios de operários. Sem demora, um deles parou e perguntou aonde o candango vestido de branco avermelhado pretendia ir. “Vou ao Hospital Distrital de Brasília”. Começou então uma discussão entre os peões de obra até que se chegou a um consenso. O caroneiro queria ir para a obra da Pederneiras. Naquele tempo, os endereços eram identificados pelo nome da construtora do prédio.

Hospital Distrital

O primeiro ortopedista da nova capital que havia se preparado para atuar em ortopedia infantil tinha caído no que parecia ser um hospital de campanha de um campo de batalha. “Foi uma loucura. Os caminhões chegavam e literalmente despejavam no pátio do barracão os candangos feridos em acidente de trabalho”. O que salvou o recém-formado foi um livro, Fraturas y luxacones , que até hoje ele guarda na estante de sua sala no Sarah da 301 Sul. “É todo cheio de diagramas, para tal coisa, faça tal coisa, e eu andava com aquele negócio debaixo do braço”.

O motivo

O que trouxe o casal para Brasília foi o desejo de fundar o próprio futuro. “Eu era a quinta geração de médicos, praticamente todos eles professores de medicina. Minha mulher e eu vimos em Brasília a oportunidade de a gente se realizar não pelo nome. No Rio, meu nome era nome de praça, de rua. Na Faculdade de Medicina, eu ia fazer prova e o sujeito, em vez de me perguntar sobre a matéria em questão, começava a perguntar como vai o fulano, o beltrano e me mandava embora. Se eu ficasse lá, ia ser mais um por causa do nome, não por causa de uma realização pessoal.”

O estudo

Foi pensando em Brasília que Campos da Paz percorreu 16 cidades da Grã-Bretanha em busca do conhecimento. “Meu chefe sabia que eu ia voltar, tanto que ele investiu muito em mim pra que eu pudesse construir a base. O volume de informações que recebi, seja sob o ponto de vista técnico, seja de gestão, seja sob o ponto de vista filosófico, foi enorme para um garoto de 26 anos.”

As amizades

Da solidão do Planalto Central, Campos da Paz cultivou ao longo de meio século interlocutores de primeira grandeza. Cita alguns: Leandro Konder, Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro, Lucio Costa. “Tive oportunidade de conhecer e conviver com figuras notáveis.” Mais que isso, Brasília ensinou o carioca a mudar a trajetória do olhar. “Meu horizonte era o Oceano Atlântico, eu vivia de costas para o país. Passei a conhecer o Brasil. O significado de Brasília foi esse: o Brasil dava as costas para o Brasil. A relação era com o oceano e com o que estava do outro lado do oceano. Não era com o país. Brasília obrigou o Brasil a se interiorizar, foi esse o grande significado dela, a conquista do país.”

Íntegra da entrevista