sábado, 29 de maio de 2010

Niemeyer e as dúvidas sobre o tombamento de Brasília

O arquiteto Oscar Niemeyer, 102 anos, ainda se impressiona quando relembra a ousadia que foi a construção de Brasília. “Era aquele Sol, a terra vazia e cheia de poeira. Tínhamos de tomar banho de manhã e à noite. Era uma coisa radical”, recorda. Coube ao arquiteto escolher o local onde seria construído o Palácio da Alvorada- residência oficial da Presidência da República. “Não havia locais bem definidos para vários prédios”, revela.

Na companhia de Israel Pinheiro, presidente da Novacap, Niemeyer visitava as instalações governamentais no Rio de Janeiro para contar o número de salas, medir espaços, e depois multiplicava tudo por dois ou três para adequar as necessidades de Brasília. Mesmo assim a multiplicação foi minimalista. Calculado para abrigar 150 servidores, o Palácio do Planalto, por exemplo, tem 600 pessoas. O clima era de total de improviso, já que não havia um programa que conferisse métrica ao volume das obras. Mas o ritmo das construções se manteve frenético o tempo todo.

Niemeyer concebeu tudo o que há Brasília recebendo um salário de funcionário público. E quando faltou dinheiro para construir o Catetinho, residência de madeira que abrigou o presidente Juscelino Kubitschek, o próprio arquiteto, junto com amigos, fez um empréstimo bancário.

A respeito do tombamento de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade, o arquiteto tem lá suas restrições: “Tudo muda. Quando o gelo do Pólo derreter, o mar vai subir e todas as cidades serão modificadas”. E acrescenta: “Se o Brasil fosse tombado, importantes obras não existiriam”.

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