domingo, 13 de setembro de 2009

Conversando com o empresário Ildeu de Oliveira

O dono das cartas

O ano era o de 1957. Ildeu procurou o dr. Israel Pinheiro na sede da Novacap, no Rio de Janeiro, e perguntou se ainda havia obras para construir em Brasília, e ele imediatamente respondeu que sim e escreveu uma carta endereçada ao dr. Vasco, que também era da Novacap e já estava em Brasília. As cartas foram juntando as pessoas e ajudando a construir a cidade e a história.

Com dois sócios, Ildeu fretou um avião monomotor. Em pleno vôo, o comandante consultou colegas sobre a localização de Brasília e foi informado que ficava entre Planaltina e Formosa. Depois de voarem por duas horas, aproximadamente, o comandante disse que só estava vendo o Cerrado!

Então, resolveu descer em Formosa e lá foi informado por um sargento da Aeronáutica que Brasília ficava entre Planaltina e Luziânia. Também disse que havia um barracão grande, com telhado de alumínio. Sendo assim, aterrissaram no local onde hoje é o atual aeroporto- a pista ainda estava sendo asfaltada. Porém, um militar não autorizou que o avião ficasse ali e foi feito novo vôo. O avião subiu para descer em uma pista de terra próxima ao Catetinho.

Ao aterrissaram no local indicado o grupo encontrou o dr. Vasco e entregou a carta de Israel Pinheiro, que disse estar tudo certo. Eles poderaim vir para Brasília trazendo máquinas de marcenaria porque no momento as obras só eram de madeira.

Em outubro, Ildeu entregou as cinco primeiras casas de madeira construídas, onde era a sede da Novacap e hoje é a Candangolândia. Uma delas foi a residência de Bernardo Sayão. Depois, Ildeu construiu a primeira escola de Brasília, Júlia Kubitsckek, também na Candangolândia, e as cinco primeiras casas do Lago Sul, ondo morou Israel Pinheiro, e ainda o Colégio Elefante Branco.

“-Todo mundo chegava com muita esperança, animado, porque havia trabalho. Trabalhávamos 24 horas, à noite um gerador iluminava as ferramentas e ninguém parava”, recorda Ildeu visivelmente saudoso na tarde do último dia 11, com o Sol a castigar o Cerrado e anunciando a primavera. A cadela da raça Golden Retriever, dengosa, deitada no chão da varanda da ampla casa no Parque Way, também acompanhava a narrativa do dono.

Além de muitas lembranças na memória, Ildeu tem uma pastinha com fotos, recortes de jornais e várias cartas manuscritas e datilografadas. A maioria traz a assinatura do presidente Juscelino Kubitschek e de dona Sarah. Uma relíquia. Era o tempo em que as pessoas escreviam longas correspondências, uma linguagem delicada e, ao mesmo tempo, rebuscada, gramática impecável. Papel de seda, envelope com as cores da bandeira e selo dos Correios. Dá saudades.

Cartas em seda

Uma carta de JK recorda o avô de Ildeu, quem ajudou financeiramente o então estudante de Medicina para que pudesse parar de trabalhar nos Telégrafos, à noite, e tratar da tuberculose que se instalava em seu pulmão. Durante seis meses o avô de Ildeu depositou alguns mil réis no banco da Província, na mineira Araguari. Outra carta cumprimenta Ildeu por seu aniversário. Pisciano típico das águas de março- um verdadeiro sonhador.

Em 1976, logo após a morte trágica de JK, chega uma cartinha de dona Sarah informando que estava distribuindo aos amigos do presidente algumas pequenas lembranças, que sabia serem muito importantes naquele círculo de amizades que se fechava.

Um comentário:

  1. A ideia do Blog é bárbara. Um presente para quem gosta da cidade, das pessoas e de sua história. E da história do Brasil, também, com esse registro sob o ponto de vista pessoal, sensível e humano.
    Muito sucesso ao Blog. E que tenha muitas participações. Vou divulgar entre os amigos.

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